quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Medo de Intimidade



A partilha de intimidade aproxima as pessoas

A intimidade significa expor-se a alguém e quando a própria pessoa não lida bem com a sua própria intimidade, como poderá conseguir relacionar-se de modo intimo com outra pessoa. Se a pessoa não se conhece a si própria e não sabe quem é, como pode desejar que alguém a ame ou a conheça?

Como é possível gerir o medo, se permanece em si o receio de intimidade com os outros, se tem medo do que possam pensar de si, se desconfia das suas intenções, se receia que se aproveitem das suas fraquezas. Como é possível evitar isso, se existe tanta insegurança relativamente à atitude dos outros. Ao pensar deste modo, a inibição e a repressão sentida só tem tendência a aumentar na presença de outras pessoas, enquanto esses sentimentos estiverem enraizados.

Muitas pessoas têm receio de intimidade mas, nem todas têm consciência disso. Mostrar intimidade é deixar cair as defesas, as máscaras e mostrar verdadeiramente quem é e o que deseja nos relacionamentos. Só agindo assim, a intimidade é exequível. No entanto, sente que manter alguma distância nas suas relações parece oferecer-lhe maior segurança, por recear que as suas fragilidades sejam usadas contra si e que isso a torne vulnerável. 

Quando evitar relacionar-se com intimidade por sentir todos esses receios, acaba por perder muito do prazer que poderia auferir numa relação. Perde a possibilidade de sentir as emoções no seu estado mais puro. Sempre que a pessoa partilha os sentimentos, desejos ou fragilidades numa relação, está a crescer, não só enquanto pessoa, mas a construir uma relação mais sólida.

O desejo de sentir conforto, amor e estabilidade emocional é necessário para que a pessoa se sinta completa, ninguém gosta de se sentir sozinho. Mas só se consegue alcançar a relação desejada quando existe partilha de intimidade, só assim, cada Homem fica saciado de amor.

A possibilidade de se ser mais feliz, existe dentro de cada um de nós, como tal, depende da sua vontade em querer desenvolver relações mais profundas e intensas e harmoniosas. Se possui essa consciência e não consegue relacionar-se com intimidade por sentir receio, também reconhece que está a perder muito do prazer que deseja. Sabe que agindo dessa forma, está a evitar sentir emoções mais intensas e verdadeiras, desperdiçando a oportunidade de  ser mais feliz. Se deseja alcançar essa plenitude mas, consegue efectuar essa alteração de comportamentos, procure ajuda profissional, por forma a  ultrapassar todos seus receios relacionais. 

Ao esconder determinadas características pessoais dos outros, não percebe que também está a escondê-las de si próprio. Este receio de expor a intimidade afeta muito as relações, mesmo as de longa duração. Por esse motivo, há quem viva 2 ou até 20 anos com uma pessoa e fica sem a conhecer verdadeiramente. 

Em muitos casos, as pessoas vivem juntas e não conhecem o íntimo da outra pessoa. É por isso acontecer que algumas vezes, quando descobre algo sobre a pessoa com quem partilha a vida, fica surpreendida com algumas das suas atitudes, ficando com sentimentos de estranheza relativamente a essa pessoa. Após algumas descobertas, o relacionamento muda, a pessoa sente-se desiludida, chegando muitas vezes a perder a confiança no outro. Nesse momento, sente que apesar do tempo em que está nessa relação, não conhece a pessoa tão bem quanto pensava. Essa pessoa passa a ser encarado como um estranho.

Esta ambivalência de ter medo da intimidade por um lado e, o desejo de construir uma relação profunda e intensa por outro, instala nas pessoas um dilema existencial muito complexo, porque apesar das defesas e máscaras utilizadas, todas as pessoas desejam e procuram essa intimidade em alguém. 

Viver é uma proeza e quem for camuflando os sentimentos e os desejos com medo do que poderá acontecer, além de não ultrapassar os bloqueios internos, sente-se frequentemente insatisfeito e frustrado. Só quem constrói relações íntimas pode alcançar o que parece ser um sonho e ser feliz.

Maria Pascoal

Quantas lágrimas existem por trás das máscaras! Quanto mais poderia o homem chegar ao encontro com o outro homem se nos aproximássemos uns dos outros como necessitados que somos, em fez de fazermos figura de fortes! Se deixássemos de nos mostrar auto-suficientes e nos atrevêssemos a reconhecer a grande necessidade que temos do outro para continuarmos a viver, como mortos de sede que na verdade estamos! Quanto mal poderia ser evitado!


Ernesto Sabato in Resistir 



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