segunda-feira, 18 de julho de 2016

Benching: quando espera sentado numa relação

circa 1956: Two girls take a break from their summer jobs at the Palisades Amusement Park, New Jersey to bask in the noontime sun. (Photo by Sherman/Three Lions/Getty Images)

Se é vítima de “benching” pode aproveitar e fazer uma sesta. Tem tempo até à próxima mensagem. (Foto: Getty Images).

Como o próprio nome indica, benching vem de bench, que em inglês significa banco, ou seja, é o ato de ficar no banco. Em pleno Euro 2016 não estamos, no entanto, a fazer nenhuma referência a Rafa ou a Éder — estamos a falar de relações. O nome tem um mês, mas o ato em si é mais velho do que quem o pratica.
 
Mas o que vem a ser o benching? Passamos a explicar. Quando conhece alguém — regra geral no Tinder ou numa rede social –, têm um ou dois encontros e essa pessoa subitamente deixa de lhe responder às mensagens, para umas semanas mais tarde voltar a dar sinais de vida, isso é benching. A comunicação é intermitente e pressupõe convites para jantares ou cafés que à última da hora nunca acontecem. E isto pode durar meses. Quem está “sentado” acha que é uma questão de timing e que, eventualmente, a coisa vai dar-se.
 
As desculpas pela ausência inexplicável são sempre elaboradas, envolvem agendas preenchidíssimas, prazos de entrega de trabalhos ou problemas familiares que são corroborados por fotografias tiradas com um único propósito: iludir a pessoa sentada.
 
Quem “senta” outra pessoa fá-lo por indecisão e para manter as suas hipóteses em aberto. Não tem a certeza de gostar o suficiente para assumir uma relação, mas não quer descartar essa possibilidade — está à espera de que apareça alguém melhor e não se quer comprometer, para além de estar de olho em mais dois ou três pretendentes. Quer ver no que vai dar e, no caso de não dar com alguma das alternativas, não fica sem ninguém. Tem sempre alguém seguro, no banco.
Há dois tipos de benching: quando alguém é solteiro e está ocasionalmente com outra pessoa de quem não tem a certeza se gosta ou não, mas não quer deixá-la ir, e quando alguém está numa relação e não tem a certeza de querer continuar nela, mas prefere não acabar e começar a procurar outras opções.
 
Segundo escreve o The Telegraph, as “benchees” também servem para acompanhar a casamentos ou para quando a pessoa não quer chegar a uma festa sozinha e sabe que basta mandar uma mensagem no Whatsapp para arranjar um par. Para quem está sentado isto só aumenta a incerteza de não saber se aquela pessoa gosta efetivamente de si ou não. Basicamente o que lhe passa pela cabeça é: se não gostasse de mim não me mandava estas mensagens versus se gostasse de mim não ficava tanto tempo sem dizer nada.
 
Porque é que tanta gente cai nesta história? Porque o bencher (aquele que pratica o benching) é atencioso, tem o cuidado de perguntar à pessoa como é que ela está, como foi o seu dia, além de uma série de outros cuidados que são interpretados como interesse genuíno. Mesmo que isso só aconteça de duas em duas semanas e seja sempre por telemóvel.
 
O que diferencia o benching do ghosting é que no último a pessoa desaparece sem aviso e de vez, isto é, não volta para se assegurar de que não perdeu nada. De acordo com a revista nova-iorquina BetaMale, o benching é bem mais traiçoeiro do que o ghosting ou do que simplesmente dizer que não está interessado e acabar com tudo de uma vez. Uma vítima de ghosting pode fazer o seu luto quando se apercebe do fim da relação — mesmo que não encontre uma explicação –, já a vítima de benching não sabe em que pé estão as coisas porque a pessoa desaparece e aparece constantemente.
 
Jason Chen, editor da BetaMale, acredita que esta é uma prática essencialmente dos homens. As mulheres entram em jogos com homens que conhecem há muito tempo e com os quais têm confiança, mas não são capazes de o fazer com alguém que acabaram de conhecer. Até porque elas ainda se regem bastante pela ideia de o homem ter de dar o primeiro passo.
 
A verdade é que o nome até pode ser recente e as aplicações de encontros até podem propiciar um acréscimo da prática, mas infelizmente o conceito não tem nada de novo. É o velho “iludir alguém” com uma roupagem nova e tecnológica.
 
Se depois de ler este texto chegou à conclusão de que está “sentado/a”, tem duas opções. Pode sentar a outra pessoa de volta ou pode levantar-se e ir à sua vida. Porque quando o benching acontece, a velha máxima de “ele/a não está assim tão interessado” continua a ser verdadeira.

Por Carolina Santos in Observador